És quan dormo que hi veig clar

J.V. Foix
J.V. Foix


A Joana Givanel


É quando chove que danço só
Vestido de algas, ouro e escama.
Há um pedaço de mar na curva
E uma parte de céu escarlate,
Um pássaro faz um rodopio
E lança galhos uma mata.
O casaréu do pirata
É um amplo girassol.
É quando chove que danço só
Vestido de algas, ouro e escama.

É quando rio que me vejo corcunda
No charco sob a eira,
Me visto de homem antigo
E persigo a caseira.
E entre pinhal e carrasqueiro
Planto a minha bandeira;
Com uma agulha de palomar
Mato o monstro que não digo.
É quando rio que me vejo corcunda
No charco sob a eira.

É quando durmo que vejo claro
Louco de um doce veneno,
Com pérolas em cada mão
Vivo no coração de uma concha,
Sou a fonte da comba
E o leito da fera,
— Ou a lua que se afina
Ao morrer carena além.
É quando durmo que vejo claro
Louco de um doce veneno.

Abril de 1939

Do livro Onde deixei as chaves... (1953)

FOIX, J.V..Feira de relâmpagos: miniantologia. Traducció de Ronald Polito i Josep Domènech Ponsatí. São Paulo: Demônio Negro, 2009, p. 58.

Traduït per Ronald Polito

Ronald Polito